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“Equipamentos furtados só poderiam sair do Saae de caminhão”, denuncia servidor

Funcionários concursados que apontam irregularidades estariam sendo perseguidos pelo comando da autarquia

Paulo Andrade (Portal Porque)

Equipamentos “desaparecidos” do Saae Sorocaba pesam de 300 quilos (como a bomba da foto) até uma tonelada. Foto: Divulgação/Saae

“Nos últimos cinco anos, eu soube de aproximadamente 100 motores e bombas de água e esgoto que saíram do Saae/Sorocaba (Serviço Autônomo de Água e Esgoto) e não voltaram mais. Muitas bobinas de cabos elétricos, pesando até 1 tonelada, também sumiram. Não é coisa de se levar na bolsa, mochila ou carro. É [material] para sair de caminhão do Saae”, afirma um dos dez servidores com os quais a reportagem manteve contato nas últimas semanas.

Consta no Portal da Transparência do Saae que, em apenas uma compra de dez motobombas (conjuntos de motor e bomba), em janeiro deste ano, a autarquia gastou R$ 2,2 milhões. Os preços de cada motobomba adquirida varia de R$ 60 mil até R$ 600 mil reais. “Tem bomba que some e tem uma altura de 1,8 metro, com até 400 hp de potência”, relata um servidor.

Em entrevista ao Portal Porque, outro servidor, que também terá no nome preservado para evitar represálias, sugere: “Se o Ministério Público ou a polícia quiser investigar o paradeiro desses equipamentos do Saae, vai encontrar vários em obras dentro de condomínios em Sorocaba. É só seguir a pista de quem dentro da autarquia tem relações com empreiteiras”.

Outro funcionário, coautor da fiscalização que revelou sucateamento de Estações de Tratamento de Esgoto (ETE), em outubro de 2021, afirmou ao Porque que o relatório, de pouco mais de dois anos atrás, já citava indícios de furto. “Era um relatório interno, tivemos que usar linguagem técnica, mas quando escrevemos (cinco fiscalizadores) que uma estação que deveria ter quatro bombas, mas apenas duas estavam operantes, na verdade informamos que as outras duas não estavam lá, tinham sumido”.

“O mesmo aconteceu quando relatamos a falta de motores, redutores, aeradores. Não estão no local que deveriam estar. Não se sabe onde se encontram. O Saae deveriam mostrar onde estão, por registro fotográfico. Nem na manutenção eles estão, pois eles não têm espaço físico para guardar equipamentos desse tamanho”, informa a fonte.

O relatório de 2021 deu origem a uma ação do Ministério Público (MP), encabeçada pelo Gaema (Grupo de Atuação Especializada em Meio Ambiente), que em março deste ano, após investigações, entrou na Justiça exigindo do município solução imediata para o despejo de esgoto em rios e córregos, além de indenização de R$ 15 milhões por danos morais coletivos e dano ambiental (Leia aqui). Os prejuízos financeiros e patrimoniais decorrentes do sucateamento ainda não constam publicamente como ação, cível ou criminal, específica do MP-SP Sorocaba.

Perseguições
Outro funcionário garante que não é só quem faz as denúncias internas de irregularidades que é perseguido e prejudicado. “Quem não compactua com o esquema também é penalizado. Os cursos de qualificação para subir na carreira e aumentar os salários, por exemplo, quem consegue fazer normalmente são os amigos dos mais graúdos, que mandam no Saae”.

“Internamente temos os cartões de gratificação, que são ganhos pelos escolhidos para atender situações de emergência fora do horário de serviço. Mas os escolhidos são quase sempre amigos da chefia; e muitas vezes nem aparecem no local de trabalho quando chamados”, afirma o servidor.

Danos propositais
Outra denúncia em comum entre os servidores ouvidos pelo Porque, muitos dos quais não se conhecem entre eles, é sobre a quebra proposital de equipamentos a fim de garantir contratos de manutenção ou compra de máquinas.

“Tem situação em que a gente vai trocar um motor que queimou em uma estação de tratamento e pega o motor reserva para instalar. Mas quando a gente vai testar, a máquina não funciona. Porém, consta na descrição que ele passou por conserto ou revisão e alguma empresa foi paga pelo serviço. Mas quando a equipe vai ver, o prazo para fazer reclamações já venceu”, descreve um servidor autárquico.

Outro funcionário relata que “costuma-se trocar motor de estação elevatória de esgoto (EEE), com potência de 350 a 375 hp, a cada três meses. Hoje a troca acontece a cada 20 dias, em média. Tudo para justificar contratos com terceirizadas”.

A receita prevista para o Saae este ano é de R$ R$ 456 milhões. Dos mais de R$ 20 milhões gastos em compras de janeiro a abril deste ano, 100% foram pagos sem ter havido licitação antes da assinatura dos contratos (Leia aqui).

Essas contratações diretas, alegadas como emergenciais ou sem necessidade de concorrência, podem dar margem a esquema de propinas e favorecimentos dentro da autarquia, conforme denúncia publicada pelo Porque 12 dias atrás (Leia aqui).

O Portal tem questionado a Prefeitura sobre as irregularidades desde o dia 19 de abril, mas não obteve respostas. Parte das denúncias está sob investigação do MP-SP (Ministério Público estadual) e pelo MPT (Ministério Público do Trabalho).

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>> MP apura denúncias de furtos e sucateamento de equipamentos no Saae

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