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Após 14 anos, estupro de adolescente tem primeira audiência

O crime aconteceu durante um baile de debutante. Vítima teve de passar por cirurgia reparadora pela violência vivida.

Fabiana Blazeck Sorrilha (Portal Porque)

Adolescente foi estuprada durante um baile de debutantes realizado num clube no centro de Sorocaba. Foto: Site do clube

Após quase 14 anos de espera, está marcada para esta quarta-feira (24) a audiência de instrução do caso envolvendo uma garota, na época com 14 anos, estuprada durante uma festa de aniversário no Ipanema Clube. O crime aconteceu em maio de 2010 e, como o agressor não foi identificado até hoje, estão sendo processados os organizadores do evento, o clube e a empresa de atendentes que servia bebidas aos convidados.

De acordo com Sheila Diniz Rosa, advogada da vítima, na audiência de instrução serão produzidas as provas orais, ou seja, serão ouvidas as testemunhas e, se for solicitado pelo juiz, as partes podem prestar depoimento. “Após 14 anos estamos tendo uma primeira audiência num crime onde não identificaram o abusador, além da vítima não ter tido qualquer auxílio dos responsáveis, uma falta de compaixão e empatia”, diz a advogada. Terminada essa audiência, finda a fase de provas, o processo vai para sentença. A advogada explicou que são responsabilizados os pais da aniversariante por terem em sua guarda a menor que sofreu a violência. Além do clube, por não ter imagens que ajudassem nas investigações, e a empresa que supostamente forneceu bebidas a menores de idade.

Nas investigações, a Polícia Civil apontou que o suspeito de cometer o estupro trabalhava numa empresa contratada para realizar a festa. A vítima era uma das melhores amigas da aniversariante e procurava por seu celular, que havia perdido, quando foi atacada por um homem dentro de um banheiro próximo ao palco do espaço.

A garota chegou a gritar por ajuda, mas por conta da música alta da festa não conseguiu ser ouvida. Durante o estupro, a adolescente foi agredida e ferida, chegando ter uma laceração nos órgãos genitais de cerca de 3 centímetros, segundo o apurado em exame de corpo de delito. Por conta da gravidade do ferimento, ela teve de passar por cirurgia reparadora no Hospital Regional.

A advogada disse que, ao ler os depoimentos na delegacia, ficou em choque ao ver que a mãe da aniversariante, que era como uma segunda mãe para a garota agredida, denegria a imagem dela com coisas tipo ‘estava bêbada, ficou com quatro etc.’, criticou.  

Sequelas psicológicas
Um lado feito por um psicólogo um ano após o estupro para compor provas ao Ministério Público indica uma série de traumas causados na menina após o crime. De acordo com o documento, a vítima passou a apresentar dificuldades de adaptação social, medo de frequentar lugares públicos e festas, além de dificuldade de atenção e falta de estímulos.

A mãe da adolescente contou que, antes do crime, a filha não tinha dificuldades de manter relações sociais, tinha bom comportamento e bons vínculos afetivos, especialmente com os pais. A mãe se refere à filha como uma menina dócil, carinhosa, obediente e com boa consciência sobre seus deveres e responsabilidades. Ela afirma que “foram os piores dias da sua vida, ver a filha ter a inocência roubada num local que eu presumia ser seguro”.

A vítima passou a frequentar sessões de terapia psicológica para enfrentar o trauma, quando apresentava excessiva tensão, irritabilidade, ansiedade, baixa autoestima e estresse toda vez que era convidada a falar sobre o episódio. Em sessões de hipnose, a garota chorava ao relembrar o que havia ocorrido com ela, porém não conseguia visualizar o rosto do agressor.

Os advogados das partes acusadas foram procurados pelo Portal Porque para se manifestarem. Tanto a advogada dos pais como o advogado da empresa de bartenders não atenderam as ligações. Já o advogado do clube foi contatado por email e, até a publicação desta matéria, não havia retornado. Se houver contato, o texto será atualizado.

Texto escrito pela vítima
Há alguns dias, a vítima do estupro escreveu um texto por conta do Dia da Mulher, lembrado em 8 de março, que segue reproduzido na íntegra abaixo, preservando seu nome:

Oi!
Eu sou você. Só que você de antes.
Eu sou você quando diziam que tudo era nossa culpa. Lembra?
Ainda dizem, é verdade… Mas hoje estou aqui para te dizer que tudo bem. Tanto faz.
Colocaram em questão nosso comportamento, menosprezaram nosso sofrimento e nos responsabilizaram por atitudes que não podem ser justificadas, causando dor silenciosa e uma imensa cicatriz emocional.

Passou.

Você teve que cuidar de nós, com carinho. Se olhou no espelho com a cabeça erguida, por que sabia que somos fortes e poderíamos vencer, que não merecíamos sofrer por erro de outro ser humano, se é que podemos chamá-lo assim.
Vestiu nossa melhor roupa e foi ser feliz. Tiramos proveito das coisas boas da vida, mesmo que pelo ensinamento do que passou.

O dia de hoje, véspera do seu aniversário, não é dia de comemorar, e sim de LUTA!
Faremos a nossa parte para que pessoas parem de culpabilizar a vítima! Até quando iremos arrumar desculpas para as maldades do mundo? VÍTIMA É VÍTIMA!! Não tem desculpa para acontecer, não devemos vitimizar monstros, dando justificativas para as atrocidades que cometem, dando desculpas para o que NÃO TEM DESCULPAS!!!

Eu quero saber quantas meninas vão ter que sofrer para que as pessoas entendam a gravidade do atual mundo em que estamos vivendo… CHEGA!

Seremos implacáveis contra cada abuso, contra os machistas e violências de gênero diárias!

Vamos mudar o mundo!!

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