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Sorocabano, Derrite, secretário de Segurança, já foi investigado por 16 homicídios

Levantamento divulgado pela "Revista Piauí" revela o total de mortes ocorridas em operações em que Derrite participou

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Secretário de Segurança Pública Guilherme Derrite (PL) já foi investigado por 16 homicídios em operações policiais comandadas por ele. Foto: Revista Piauí

Investigado por participar do homicídio de dezesseis pessoas, o secretário estadual de Segurança Pública, Guilherme Derrite (PL), que é integrante do governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), foi tema de uma reportagem publicada na edição de maio da “Revista Piauí”. Segundo sua certidão criminal, apresentada ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) quando concorreu a deputado federal, o ex-policial militar tomou parte de intervenções que somaram dez homicídios, num período de apenas três anos e nove meses.

Há um sétimo inquérito – que não consta da certidão criminal entregue ao TSE – sobre uma operação policial que terminou, apenas ela, com seis mortos, além de três policiais militares presos por tortura e assassinato. Com mais esse inquérito, o total de mortes sobe para dezesseis. A reportagem de João Batista Jr. explica que o número não significa que Derrite tenha matado dezesseis pessoas, pois os inquéritos nem sempre apontam o autor do disparo fatal. Mas mostra que ele participou de ações policiais que resultaram nesse saldo de mortes. O atual secretário de Segurança Pública foi investigado em todos esses sete inquéritos, mas nunca foi denunciado.

A operação que resultou em seis mortos, no entanto, motivou a saída de Derrite da Rota, a tropa de elite da Polícia Militar de São Paulo. Seus superiores entenderam que sua letalidade era alta demais. O próprio Derrite, em entrevista a um canal de YouTube em 2021, falou sobre sua saída da Rota. “Porque eu matei muito ladrão. A real é essa, simples. Pá!”. Mesmo com um histórico desses, o secretário estadual chegou a criticar publicamente colegas de farda que mataram “menos de” três pessoas em cinco anos de serviço. “É vergonhoso”, disse. Depois, arrependeu-se da crítica, mas nunca revelou quantas pessoas ele próprio matou.

A mesma reportagem conta que Wallace Oliveira Faria, condenado a 102 anos de prisão, sentença que cumpre no presídio de Tremembé, no interior paulista, deu dois depoimentos à Defensoria Pública do Estado de São Paulo, entre junho e agosto de 2019. Nos depoimentos, Faria confessou que fazia parte de um grupo de extermínio de Osasco, na Região Metropolitana de São Paulo, cujas operações eram do conhecimento de Derrite. “Tudo o que a gente ia fazer avisava o Derrite. Ele tinha comando total”, disse.

O grupo de extermínio batizado de Eu Sou a Morte era integrado por policiais de dois batalhões da PM em Osasco – o 42º e 14º – de acordo com a denúncia de Faria. Derrite era membro do 14º Batalhão, de onde saiu para integrar a Rota. Os depoimentos de Faria trazem detalhes e circunstâncias, mas, como careciam de provas materiais, não foram adiante.

Mesmo modus operandi causa estranheza
Os inquéritos não significam, frise-se, que Derrite tenha matado pessoas, pois os documentos nem sempre apontam o autor do disparo fatal, mas que participou de ações policiais que resultaram nesse saldo de mortos. É uma média alta: um morto a cada quatro meses e meio. Nos documentos, chama a atenção como a dinâmica dos homicídios se repete, com pequenas variações, descreve a reportagem publicada pela “Piauí”. Em todos os casos, as vítimas atiram contra os policiais, mas nunca acertam. Em todos os casos, são atingidas em órgãos vitais, como coração ou pulmão. Em todos os casos, são homens e já tinham, à exceção de uma vítima cujo histórico policial não foi confirmado, ficha por roubo ou uso de drogas, ou então passaram pela Fundação Casa, que abriga jovens que cometeram alguma infração. E em raríssimos casos há testemunhas civis dos fatos.

“Considerando que na vida real confrontos entre policiais e bandidos nunca se passam da mesma forma, a repetição do padrão é um mau indicador. As cenas sugerem que nem sempre houve confronto, dada a improbabilidade de que os criminosos tenham um índice de 100% de erro nos disparos. Também sugerem que quase nunca houve tiros de advertência, pois os disparos dos policiais acertaram regiões vitais”, descreve o jornalista autor da matéria.

Procurado pelo jornalista João Batista Jr., o secretário de Segurança Pública não quis dar entrevista e preferiu responder às perguntas por escrito. Em um e-mail, a reportagem perguntou se Derrite conhecia Wallace Faria; se sabia de sua tentativa de fazer uma delação premiada; se poderia informar sua escala de plantão no período em que trabalhou no 14o Batalhão em Osasco; se ouvira falar do grupo de extermínio Eu Sou a Morte e o que tinha a dizer sobre a acusação de que ele próprio comandava as ações dos matadores. A nota não responde às indagações e limita-se a dizer o seguinte: “O secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, lamenta que as acusações infundadas, colocadas a partir da denúncia de um criminoso que cumpre pena neste momento, tenham espaço.”

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