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Prefeitura de Sorocaba impede associação de realizar eventos ligados ao Carnaval

Segundo a Associação Cultural do Samba de Sorocaba, a Prefeitura de Sorocaba determinou que não poderia ser utilizada a denominação “Carnaval”, tanto no local em que se realizaria, o Parque das Águas, como em nenhum material de promoção e de divulgação

Carlos Lara (Portal Porque)

Foto de arquivo do desfile das escolas de samba em Sorocaba, que reuniu dezenas de milhares de pessoas em governos anteriores: festa banida. Foto: Alexandre Lombardi/Arquivo Secom

Preconceito, discriminação, injustiça e mágoa. Esses são alguns dos sentimentos que um representante das escolas de samba de Sorocaba acumula, depois de diversas tentativas para viabilizar a apresentação do desfile das agremiações em Sorocaba, desde que o prefeito Rodrigo Maganhato (Republicanos) assumiu a chefia do Executivo, em janeiro de 2021.

De acordo com Marcelo Mello, vice-presidente da Associação Cultural do Samba de Sorocaba (Acusa), desde que tomou posse, o atual prefeito e sua equipe têm como lema a frase “Carnaval com o nosso dinheiro, não”.

Ciente disso, a direção da entidade foi em busca de alternativas para driblar essa situação, apostando em parcerias com a iniciativa privada, com as quais obteve sucesso. Porém, mesmo sem gerar custo algum para a Prefeitura, a realização de qualquer evento ligado ao desfile das escolas tem sido boicotada, seja pela burocracia ou pela má vontade dos envolvidos da administração pública municipal.

O último episódio ocorreu nesta semana, quando a Acusa chegou à conclusão de que deveria cancelar o Carnaval fora de época que promoveria no dia 21 próximo, feriado de Tiradentes, porque a Prefeitura de Sorocaba determinou — a menos de um mês da realização do evento – que não poderia ser utilizada a denominação “Carnaval”, tanto no local em que se realizaria, o Parque das Águas, como em nenhum material de promoção e de divulgação.

“Mesmo com um absurdo desse, que foi justificado pela administração pública municipal com o fato de que a data já passou e que o prefeito não quer o nome Carnaval no evento, fomos buscar alternativas e decidimos denominar de Festival Gastronômico, com a parceria de comerciantes que trabalham com food trucks e que nos apoiariam e participariam do evento, ao lado das escolas de samba de Sorocaba”, desabafa Marcelo Mello.

Apesar da alternativa encontrada, a burocracia da Prefeitura novamente inviabilizou a realização do evento, pois, desde que a documentação necessária foi entregue, no mês de fevereiro, a administração municipal não gerou e não forneceu qualquer número de protocolo, o que impossibilitou o acompanhamento do trâmite, gerando dúvidas nos parceiros compromissados, e que acabaram optando por reservar o feriado de 21 de abril para eventos em outras cidades, pelas quais foram convidados, visto que em Sorocaba não havia a certeza de sua realização.

Ainda de acordo com o dirigente da Associação Cultural, a Prefeitura de Sorocaba se recusou a entrar com o que havia previamente se compromissado, que seria a logística para o evento, com a cessão de pessoal de apoio para a montagem dos sistemas elétrico e hidráulico, e de engenharia e suporte para a interdição do trânsito ao redor do Parque das Águas. Mesmo com essa negativa, a Acusa conseguiu se mobilizar para atender a essas demandas.

“Como a incerteza prevaleceu, desde que fomos obrigados a alterar a denominação do evento, simplesmente porque o prefeito não admite o termo Carnaval em um espaço público, decidimos pelo cancelamento, em respeito aos participantes, às escolas de samba e ao público, visto que a menos de um mês da realização do evento fomos obrigados a mudar o seu nome e desta forma não houve tempo hábil para a mobilização e a divulgação necessárias, embora tivéssemos feito todos os esforços para isso”, explica o vice-presidente da Acusa.

Adiamento forçado

O Carnaval fora de época foi agendado para o feriado de 21 de abril próximo porque em sua data oficial, em fevereiro , não foi possível a sua realização, visto que o local do evento – o Parque das Águas – estava tomado pelas águas do rio Sorocaba, que transbordou depois de fortes e intensas chuvas nas vésperas do desfile, com previsão de mais chuvas nos dias seguintes.

“Apresentamos como alternativa o espaço em frente ao Paço Municipal, que havia sido o palco da Festa Junina, mas a Prefeitura de Sorocaba não autorizou, sem apresentar explicações fundamentadas, fato que nos obrigou a adiar o evento”, detalha Marcelo, enfatizando ainda que “nosso sentimento é de mágoa, preconceito e de discriminação, visto que a conclusão a que chegamos é a de que a administração pública quis impedir, e conseguiu, a realização do desfile das nossas escolas de samba a todo custo”.

O dirigente da Acusa lembra ainda que do ponto de vista legal, a associação e suas escolas de samba estão respaldadas para pleitearem verba da Prefeitura de Sorocaba, por meio da Secretaria da Cultura – mas não o fazem –, visto serem de utilidade pública, além de patrimônio cultural e imaterial da cidade, de acordo com a Lei Municipal 12.378, de setembro de 2021, sancionada pelo prefeito Rodrigo Manga, além de leis no mesmo sentido assinadas no Estado e no âmbito federal, essa recentemente aprovada pelo Senado.

Resgate e conscientização

Além do desfile das escolas de Samba de Sorocaba filiadas à Acusa – Mocidade Independente Sorocabana, Estrela da Vila e Gaviões da Fiel subsede de Sorocaba –, tanto o desfile de fevereiro como o previsto para o feriado de Tiradentes contariam com outras atrações, que incluíam o “CarnaSaúde – Vida Saudável, Carnaval Feliz” (orientações de saúde, matinê com marchinhas carnavalescas e show infantil), o “CarnaCão: os pets também se divertem” (orientação veterinária, adoção de animais, concurso de fantasias dos pets e show infantil), shows de samba e pagode e oficinas de fantasias e bateria.

“Infelizmente, as escolas de samba são estigmatizadas e existe uma confusão, pois são confundidas com os bailes de Carnaval dos salões de clubes, que invariavelmente apresentavam excessos de todo tipo, principalmente quando eram mostrados pelas emissoras de TV”, afirma Marcelo Mello.

“Por conta desse quadro, nós da Acusa decidimos, em primeiro lugar, pela apresentação das escolas de samba em Sorocaba sem a disputa de título – ao menos temporariamente- e pela promoção de eventos educativos, com o objetivo de resgatarmos a verdadeira essência do Carnaval em Sorocaba, que é desvirtuada por discursos negativos de denominações religiosas extremistas, pois na verdade, escola de samba é tradição e cultura. Podemos comparar o desfile a uma peça de teatro, em que são necessários enredo, texto, roteiro, música e muito estudo, que consomem de um a três anos de preparação”, finaliza.

O Porque enviou e-mail à Secretaria de Comunicação da Prefeitura (Secom), mas não houve resposta. Caso a Prefeitura de Sorocaba resolva dar sua versão dos fatos, ela será acrescida à matéria.

Em resposta ao jornal Cruzeiro do Sul, nesta quarta-feira (12), a Secom respondeu com evasivas, argumentando que o Município “não dispõe mais do feriado relativo a data”.

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