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Movimento popular vence tentativas de censura e Marcha da Maconha acontece pacificamente

Tema escolhido por organizadores para ato deste ano reforça resistência, diversidade e desobediência aos desmandos do prefeito Rodrigo Manga

Fabiana Blazeck Sorrilha (Portal Porque)

Num ambiente pacífico, os apoiadores caminharam partindo da Praça Frei Baraúna até a Praça da Bandeira. Não houve nenhum tipo de imprevistos. Foto: Renata Rocha/Portal Porque

Com o aval da Justiça, a Marcha da Maconha de Sorocaba 2023 aconteceu normalmente, na tarde deste domingo (12), por ruas centrais. O evento, considerado um movimento social, cultural e político, tem o objetivo de colocar em questionamento a atual lei antidrogas do País. Cada ano, as marchas escolhem um tema central e, de acordo com os organizadores da edição de Sorocaba, o tema deste ano foi “resistência, diversidade e desobediência”, devido às várias tentativas de silenciamento do coletivo, feitas pelo prefeito Rodrigo Manga (Republicanos), com articulações realizadas na Câmara de Vereadores para proibir a livre expressão do grupo.

“Eles tentam calar e anular as pessoas diferentes, que subvertem aos pensamentos deles. Iremos resistir, iremos celebrar a diversidade e iremos desobedecer a toda e qualquer lei que machuque nossa existência. É absurda a ideia de proibir a expressão. Eles têm o direito de não concordar conosco, mas jamais o direito de nos calar”, posicionaram-se os organizadores.

Num ambiente pacífico, os apoiadores caminharam partindo da Praça Frei Baraúna até a Praça da Bandeira. Não houve nenhum tipo de imprevistos. Conforme determinou a Justiça, não havia a presença de crianças. “A marcha da maconha é um movimento sério, gigante, que esta presente em todo o País, composto por pessoas de grande articulação política, social, filosófica. Somos trabalhadores, mães, pais”, reforçam os organizadores do evento.

Resistência e informação

Paulo Mariante, advogado e membro do coletivo da Marcha da Maconha de Campinas, esteve presente em Sorocaba para acompanhar o ato local. Para ele, a luta do grupo local para realizar a Marcha da Maconha na cidade, não baixando a cabeça e enfrentando todas as dificuldades para que ela acontecesse, é louvável.

“O que está em questão é uma disputa política contra um grupo que dialoga com a questão das drogas pensando em educação, saúde, cultura, assistência, menos criminalização. A criminalização das drogas é um erro por princípio e hoje temos pessoas sendo criminalizadas por adotarem posturas de desobediência civil, fato inconstitucional é querer punir quem exerce seu direito constitucional. A realização da Marcha é justa e saber que o prefeito está indignado e não conseguiu proibi-la é uma grande vitória”, asseverou.

Beatriz Kober, administradora da rede social @sementedaboa, diz que é importante que as pessoas saibam e desmistifiquem o uso da maconha, buscando conhecimento antes. “Sou de Cotia (SP) e esta é a segunda vez que venho à Sorocaba para apoiar a Marcha daqui. A pessoa que se dispõe a criticar a Marcha precisa conhecer ao que ela se refere, antes de falar”, completou.

Juliana Andrade também acompanhou a marcha com o objetivo de chamar a atenção para o uso da maconha de forma medicinal. Ela tem duas doenças autoimunes, lúpus e fibromialgia, e só conseguiu diminuir as dores que sentia com o uso da maconha, depois de diversas tentativas de tratar suas doenças, recorrendo ao SUS sem obter sucesso até o momento. Juliana tem autorização judicial para cultivar a maconha em casa e está disponível em sua rede social @hemp.brasil para orientar as pessoas que também precisam ter acesso ao tratamento medicinal e cultivar a planta.

A rede da organização das marchas é horizontalizada, sem comandos, e que se autoapoiam em mais de 40 localidades diferentes para que elas aconteçam e levem informações claras sobre os objetivos da Marcha.

Sobre a decisão por liberar a marcha

O juiz Alexandre de Mello Guerra, da Vara da Fazenda Pública de Sorocaba, liberou, na última terça-feira (07), a realização da Marcha da Maconha Sorocaba 2023. Na sentença, o juiz afirmou que o evento é uma manifestação legítima de duas liberdades individuais promovidas por cidadãos da República: “o direito de reunião (liberdade-meio) e o direito à livre expressão do pensamento (liberdade-fim)”.

A sentença negou a pretensão da Prefeitura de Sorocaba de suspender o evento com ação com pedido de liminar. De acordo com o juiz Alexandre Guerra, o Supremo Tribunal Federal já julgou casos semelhantes garantindo a “liberdade de reunião como pré-condição necessária à ativa participação dos cidadãos no processo político e de tomada de decisões no âmbito do aparelho de estado…)”.

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