Bisneto de escravizados, José Marciano nasceu no dia 19 de fevereiro de 1927 em Sorocaba. Foto: Reprodução
Sorocaba perdeu na noite deste domingo (21) uma das personalidades mais importantes da história do movimento negro local, o ferroviário José Marciano, aos 97 anos de idade. Ele era o último fundador do tradicional Clube 28 de Setembro que ainda estava vivo. O velório e o sepultamento ocorreram nesta segunda-feira (22).
Bisneto de escravizados, José Marciano nasceu no dia 19 de fevereiro de 1927 em Sorocaba, na Vila Leão. Sua história é contada pelo escritor e historiador Carlos Carvalho Cavalheiro, no livro Nossa Gente Negra.
Segundo Cavalheiro, José Marciano começou a vida profissional na Fábrica de Explosivos Vera Cruz, em frente ao local onde hoje está o Campus da Uniso, na Rodovia Raposo Tavares. Em agosto de 1945, tornou-se ferroviário, trabalho que desenvolveu até a aposentadoria em julho de 1976.
No mesmo ano em que iniciou a carreira de ferroviário, José Marciano e outros 13 colegas de profissão fundaram a Sociedade Cultural e Beneficente 28 de Setembro. O objetivo da entidade era promover atividades beneficentes, recreativas e culturais para a população negra de Sorocaba, uma vez que outros clubes da cidade como o União Recreativo e o Sorocaba Clube não permitiam a entrada de negros.
Mais do que promover eventos, o clube logo diversificou seus trabalhos em prol da população preta, ocupando o espaço deixado pela unidade sorocabana da Frente Negra Brasileira (FNB), que havia sido extinta após a instauração da ditadura do Estado Novo.
O trabalho realizado por José Marciano no 28 de Setembro contribuiu para consolidar ou fundar iniciativas aclamadas em Sorocaba como o Movimento das Mulheres Negras (Momunes), o Centro Cultural Quilombinho, a Fundação Cafuné e o Núcleo de Cultura Afro-Brasileira (Nucab), hoje vinculado à Universidade de Sorocaba.
