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Manifestantes lotam plenário da Câmara e pedem fim da violência política de gênero

Protesto contra machismo dos vereadores ganhou força na Casa de Leis e seguiu para a avenida Engenheiro Carlos Reinaldo Mendes

Wilma Antunes (Portal Porque)

Homens e mulheres marcaram presença na Câmara Municipal de Sorocaba para protestar contra a violência política de gênero direcionada as duas únicas vereadoras mulheres. Foto: Wilma Antunes/Portal Porque

“Machistas não passarão”. Essa frase ecoou pelos corredores e galeria da Câmara Municipal de Sorocaba na sessão ordinária desta terça-feira (7). Homens e mulheres se reuniram em peso para repudiar a violência política de gênero, praticada sistematicamente pelos vereadores contra as duas únicas representantes femininas no Legislativo. O protesto não se restringiu ao ambiente interno da Câmara, se estendendo até uma das principais avenidas da cidade, a Engenheiro Carlos Reinaldo Mendes, que dá acesso ao Paço Municipal e à Casa de Leis.

Desde o início da sessão, por volta das 9h20, as ativistas do Comitê Popular de Luta Mulheres pela Democracia Sorocaba tomaram a dianteira, organizando um manifesto contra a violência de gênero direcionada às vereadoras Iara Bernardi (PT) e Fernanda Garcia (Psol), perpetrada pela maioria dos colegas do Legislativo. A professora Virgínia Fernandes, uma das idealizadoras do Comitê, ressaltou que o objetivo do manifesto era “expressar a indignação coletiva diante da violência política de gênero”.

Figuras como a ex-presidente do Conselho Municipal da Mulher e advogada Emanuela Barros, conhecida como Manu, e a ex-prefeita e delegada aposentada Jaqueline Coutinho, também marcaram presença na manifestação.

A presença maciça dos manifestantes deixou os vereadores homens visivelmente desconfortáveis. Embora alguns tenham reduzido o tom ao perceberem que, com a manifestação, suas vozes eram minoria na Casa, outros se recusaram a reconhecer seus próprios erros. Um exemplo disso é o vereador Vinícius Aith (Republicanos), que adentrou o plenário com gestos provocativos, servindo pão com mortadela ao público, uma referência depreciativa frequentemente utilizada pelos conservadores para desqualificar os progressistas. 

Ele, que é conhecido por suas declarações machistas e polêmicas, foi recebido com repulsa pelos manifestantes. Quando apareceu no plenário, as mulheres presentes viraram as costas, demonstrando seu desagrado em relação ao parlamentar. 

‘Respeita a gente primeiro’
“Mexeu com uma, mexeu com todas”, “mulheres unidas jamais serão vencidas”, “machistas, fascistas não passarão”, “elas nos representam” e “fora Aith” foram algumas das palavras de ordem entoadas pelos manifestantes no plenário. Em determinado momento, o presidente da Câmara, vereador Cláudio Sorocaba (PSD), solicitou que os manifestantes mantivessem silêncio para que os projetos em pauta pudessem ser discutidos. A resposta do público foi clara: “respeitem a gente primeiro”.

O vereador Francisco França (PT), que integra a bancada da oposição ao lado de Fernanda e Iara, criticou Aith e destacou a necessidade de respeito às mulheres, o chamando de “moleque irresponsável que nunca trabalhou na vida”. “Não sabe nem o que é uma carteira de trabalho assinada para vir aqui e tentar desqualificar as companheiras e companheiros que estavam presentes no movimento […] esse moleque está no lugar errado, precisa aprender a conviver em sociedade e entender que esta Casa é de respeito”, disparou.

Já Iara enfatizou que, recentemente, participou de uma reunião em São Paulo com vereadoras convocadas pela Secretaria Estadual da Mulher, onde ouviu diversos relatos de violência de gênero por parte de vereadoras que atuam em municípios paulistas. Ela disse que identificou nas denúncias das colegas a mesma realidade vivenciada em Sorocaba.

“Elas relataram diversas formas de ameaça, incluindo ameaças de morte e cassação, além de desrespeito dentro do plenário, algo que também estamos enfrentando aqui. O que tenho a dizer, digo pelo microfone, assumo minhas palavras, as insiro em requerimentos e fiscalizações que realizei. No entanto, alguns vereadores aqui têm o hábito irritante de pegar o microfone repentinamente, levantar a mãozinha, e começar a proferir absurdos totalmente desconexos com o tema em discussão. O que mais irrita os vereadores aqui hoje são as denúncias em relação ao prefeito Manga”, ponderou a vereadora.

Oposição engolida
Durante a manifestação, três funcionárias do Cadq (Centro de Atenção ao Dependente Químico), instituição fundada pelo prefeito Rodrigo Manga (Republicanos), surgiram para protestar contra as duas vereadoras com placas que diziam “elas não nos representam”. No entanto, logo se dispersaram e saíram do plenário. A impressão que ficou para quem acompanhou a sessão de perto foi que essas mulheres foram convocadas por algum aliado do prefeito para contrapor o protesto. Se esse era o propósito, falhou.

Conversa no corredor
Em um dos corredores da Câmara Municipal, Manu Barros convidou Aith para uma conversa, deixando de lado as paixões políticas. Embora tenha solicitado que os veículos de comunicação não filmassem o diálogo, permitiu que os profissionais de imprensa acompanhassem. Aith, aceitando o convite, adotou um tom mais conciliatório, mas persistiu em sua defesa, alegando que “a liberdade só vale para o outro lado”.

No decorrer da conversa, algumas pessoas presentes começaram a levantar outras questões, gerando pequenos conflitos. O secretário de Relações Institucionais e Metropolitanas, Luiz Henrique Galvão, bateu boca com um dos manifestantes, enquanto o chefe de gabinete de Aith, Raphael Pironi, também se envolveu em um atrito com uma das mulheres no corredor.

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