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Prefeitura ignorou plano da Santa Casa para se antecipar à crise da dengue

Em março, entidade pediu mais leitos e outras medidas para o possível aumento de casos da doença; mecânico com dengue hemorrágica ficou três dias sentado na UPA do Éden à espera de vaga

João Maurício da Rosa (Portal Porque)

Na UPA do Éden desde segunda-feira (6), paciente só conseguiu uma maca para repousar na noite desta terça-feira (7), véspera de sua transferência. Foto: Arquivo Pessoal

A Prefeitura de Sorocaba ignorou um plano de contingência para a epidemia de dengue, apresentado pela Santa Casa, o que resultou na falta de vagas nas duas unidades de saúde administradas pela entidade, a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Éden e a UPH (Unidade Pré-Hospitalar) da Zona Leste. A informação foi apurada pelo Portal Porque com um alto funcionário da Santa Casa.

Segundo ele, a entidade alertou a Prefeitura de Sorocaba para o problema da dengue em março deste ano. Ele explica que o Padre Flávio Jorge Miguel Júnior, gestor da Santa Casa, apresentou para SES (Secretaria de Saúde) um plano de contingência como forma de antecipar a crise da dengue.

A medida proposta pela gestão da Santa Casa tinha o objetivo de preparar a UPA do Éden e a UPH da Zona Leste para o possível aumento de atendimentos para os casos da doença e, dessa maneira, solicitava abertura de novos leitos, aumento dos estoques de insumos e medicamentos, além de locação de mais mobiliários para as unidades.

No entanto, o plano da Santa Casa não foi levado em consideração pela gestão do prefeito Rodrigo Manga (Republicanos). “Infelizmente ele [padre Flávio] não foi ouvido e o problema está exatamente na falta de vagas hospitalares. Não adianta UBS Sentinela, elas pouco ou nada fazem. Daí todo mundo vai para as UPHs”, argumenta o funcionário, que é muito próximo da direção da entidade.

De acordo com ele, a UPA do Éden dispõe de 12 leitos de emergência sendo disputados por cerca de 60 a 80 pacientes. “Estamos atendendo, em média, 700 pessoas tanto no Éden como na UPH (Unidade Pré-Hospitalar) da Zona Leste”, detalha.

O funcionário completa que a situação das duas unidades de saúde pode se agravar neste período de outono. “Essa é a realidade. Com a chegada do outono aumentam os casos de problemas respiratórios”, avisa.

Procurada pelo Portal Porque, a Prefeitura de Sorocaba não respondeu aos questionamentos.

Paciente sofre com espera
Com dengue hemorrágica e precisando urgente de transfusão de sangue, o mecânico Lucas Anderson Martins de Oliveira, de 27 anos, foi transferido nesta quarta-feira (8) para a Santa Casa de Misericórdia de Sorocaba depois de três dias esperando vaga sentado em uma cadeira na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Éden. Ele só conseguiu uma maca para repousar na noite desta terça-feira (7), véspera de sua transferência.

Lucas recebeu o diagnóstico de dengue no último sábado (3). Voltou para casa, mas a doença evoluiu e ele retornou à UPA na segunda-feira (5), onde os médicos constataram acentuada queda de plaquetas no sangue e determinaram sua transferência para receber transfusão.

Foi aí que começou o desespero da família. Além de não conseguir vaga através da Cross (Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde), a UPA não ofereceu sequer uma maca para que pudesse aguardar com maior conforto.

“Desde então ele ficou sentado numa cadeira, porque alegavam não ter macas, embora eu pudesse ver macas sem uso e algumas em manutenção”, afirmou sua tia, Pâmella Martins, que o acompanhou na UPA.

Em seu perfil no Instagram, Pâmella enviou mensagem ao prefeito Rodrigo Manga (Republicanos) chamando a atenção para o problema e puxou a orelha do chefe do Executivo: “Mais atenção à área de saúde, seu prefeito”.

12 mortes e 15 mil casos
Sorocaba já contabiliza 12 mortes por conta da dengue somente este ano. O novo óbito, de uma mulher de 28 anos, foi confirmado pela Prefeitura nesta segunda-feira (6). Outras seis mortes estão em investigação.

Ao todo, a cidade tem 15.729 casos confirmados da doença. Desses, 15.554 são autóctones (contraídos em Sorocaba) e 164 são importados. Já 11 situações foram classificadas como indeterminadas.

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