Busca

Com volta da poluição, aves se alimentam de esgoto e ar fica irrespirável na Zona Norte

A comerciante Stephane da Silva, que mora a 3 quilômetros de distância da ETE Pitico, conta que precisou usar máscara para filtrar o ar, pois estava sentindo enjoo.

João Maurício da Rosa

Poluição e esgoto “in natura” são lançados no Rio Sorocaba e seus afluentes. Foto: Cortesia

A volta da poluição ao Rio Sorocaba e o colapso do sistema de tratamento de esgoto tornaram o ar impregnado por mau cheiro nas margens dos rios e no ar da Zona Norte de Sorocaba. O mau cheiro motivou requerimento, aprovado pela Câmara de Vereadores, exigindo explicações ao Saae (Serviço Autônomo de Água e Esgoto). Além disso, a vereadora Iara Bernardi (PT) percorreu na semana passada os córregos que desaguam no Rio Sorocaba e anotou vários locais onde o próprio Saae instalou drenos para escoamento do esgoto que as tubulações não conseguem comportar.

Da Vila Barcelona, na Zona Leste, ao Jardim Simus, na Zona Oeste, os córregos estão totalmente tomados pelo esgoto lançado pelo próprio Saae, como o Portal Porque vem denunciando desde julho e que agora foi comprovado pessoalmente pela vereadora Iara Bernardi.

“O prefeito Rodrigo Manga (Republicanos) precisa parar de mentir sobre a despoluição do Rio Sorocaba e dados de saneamento”, afirma Iara, apontando para um córrego que vem da Rua Cuba, na Vila Barcelona, trazendo esgoto das vilas Sabiá, João Romão e Zacarias, que ficam do outro lado da rodovia Raposo Tavares.

O vídeo de Iara mostra dois pássaros maçaricos-do-banhado chafurdando o lodo buscando caramujos ao lado de um extravasador, nome técnico dos drenos instalados pelo Saae para escoar nos córregos o esgoto que os dutos já não suportam.

“Não é só o lixo que a população joga, é esgoto puro. Isso aqui é uma poluição nunca vista. Não sei como essas pessoas conseguem viver aqui, o cheiro é horrível. Antes moravam na frente de um córrego limpo, hoje é esgoto puro”, comenta a vereadora, apontando para residências e para a água turva que escorre na direção do Rio Sorocaba.

A instalação dos drenos da rede de esgoto para os córregos e diretamente no Rio Sorocaba foi revelada por funcionários do próprio Saae e denunciada em julho passado pelo Portal Porque. O procedimento vem sendo utilizado há cerca de 10 anos, desde que o volume de esgoto excedeu a capacidade da tubulação.

A engenharia que projetou a festejada despoluição do Rio Sorocaba não previu o óbvio crescimento da cidade e o adensamento populacional, de modo que restou a volta ao primitivo costume de lançar esgoto “in natura” nos cursos d’água.

Indo da vila Barcelona ao Jardim Simus, Iara ficou emocionada na Alameda dos Lírios, à beira do Córrego Itanguá, onde viveu na infância. “Nem ave silvestre a gente vê mais”, comenta, anotando a presença de outra saída de esgoto clandestina. “O Ribeirão de Itanguá era limpo, bonito, a gente vinha nadar e hoje é um córrego de esgoto. O maior córrego de Sorocaba vai desaguar no rio Sorocaba, portanto, o rio Sorocaba também é esgoto mesmo”, observa Iara.

Esgoto no ar

A vereadora Iara Bernardi concluiu sua ronda pelos extravasadores do Saae perguntando ao prefeito Rodrigo Manga se a Zona Norte está tomando esgoto ou se, realmente, a água é purificada? O questionamento é baseado no fato de a Zona Norte ser abastecida pelo Rio Sorocaba e vários de seus bairros exalarem cheiro de esgoto.

No Parque São Bento, o auxiliar de produção William Soares relata que o odor inconfundível de esgoto vem e volta com intensidade variada, às vezes cheirando a ovo podre. Ele reside no final da rua Dulce de Oliveira Oliva, de onde dá para avistar uma torre cilíndrica da Estação de Tratamento de Esgoto Pitico (ETE Pitico). Para moradores, a torre parece uma chaminé a exalar o esgoto que capta do rio Sorocaba, mas é a caixa d’água da ETE, uma das mais importantes do projeto de despoluição do rio, inaugurada em 2009 entre as avenidas Ipanema e Itavuvu.

Na semana que passou os moradores dizem que o odor foi dos mais fortes já sentidos no Parque São Bento. A comerciante Stephane Kysmara da Silva, que mora a 3 quilômetros de distância da ETE Pitico, conta que precisou usar máscara para filtrar o ar, pois estava sentindo enjoo.

Incomodados com o mau cheiro intermitente, moradores encaminharam denúncia ao vereador Ítalo Moreira (sem partido), que exigiu do Saae explicação em requerimento votado e aprovado pela Câmara Municipal. Ítalo encaminhou 17 perguntas e obteve 17 respostas, mas nenhuma solução.

De acordo com o Saae, “existem várias situações que podem gerar exalação de odores, como, por exemplo, esgoto bruto anaeróbio e de alta concentração de gases ou despejos de efluentes industriais nas redes coletoras de esgoto, que são enviadas às elevatórias e estações de tratamento que podem exalar odores característicos.”

Assim sendo, segundo a autarquia, “eventualmente ocorrem relatos da população que em algum período do dia há ocorrência de odores” e o “SAAE possui equipes que monitoram, examinam e avaliam suas redes de esgoto, elevatórias e as estações de tratamento. As estações de tratamento de esgoto do SAAE operam dentro dos padrões exigidos pela legislação vigente”.

Leia na íntegra resposta do Saae ao vereador Ítalo Moreira

1) Existem várias situações que podem gerar exalação de odores, como por exemplo, esgoto bruto anaeróbio e de alta concentração de gases ou despejos de efluentes industriais nas redes coletoras de esgoto que são enviadas às elevatórias e estações de tratamento que podem exalar odores característicos.
2) Eventualmente ocorre relatos da população que em algum período do dia há ocorrência de odores.
3) O SAAE possui equipes que monitoram, examinam e avaliam suas redes de esgoto, elevatórias e as estações de tratamento.
4) As estações de tratamento de esgoto do SAAE operam dentro dos padrões exigidos pela legislação vigente.
5) Em períodos de altas temperaturas e estiagem prolongada pode ocorrer, excepcionalmente em alguns momentos do dia, a insuficiência de disponibilidade de oxigênio para o sistema, acarretando maior exalação de odores.
6) O SAAE Sorocaba logo que identifica exalação de odores potencializados, imediatamente aumenta a capacidade de injetar oxigênio no processo, procede também a retirada de lodo de sistema em sua maior capacidade, também aumenta a dosagem do produto neutralizador de odores atmosféricos aspergidos em elevatórias e nas estações. A autarquia efetua também a inertização do lodo fazendo a aplicação de cal para a inibição da liberação de odores.
7) Todos os resíduos gerados na estação são enviados para aterro sanitário legalmente licenciado.
8) As manutenções são realizadas de forma corretiva assim que detectado algum problema no funcionamento de equipamentos.
9) Em ocasiões específicas, o SAAE realiza um monitoramento nas dependências e nas redondezas das estações, nas elevatórias e em vários pontos da rede coletora e emissários.
10) O SAAE empenha todos os esforços para solucionar ou minimizar os efeitos de qualquer inconformidade em seus processos.
11) A região mais afetada é aquela com maior proximidade nos pontos que potencializam a exalação de odores.
12) Existem várias outras situações que podem gerar exalação de odores,como por exemplo, esgoto bruto anaeróbio e de alta concentração de gases, despejos de efluentes industriais nas redes coletoras.
13) Os estudos realizados pelo SAAE refere-se à eficiência da estação de tratamento e qualidade do efluente lançado no corpo receptor.
14) Alguns eventos foram registrados pontualmente. Aumento na dosagem de inibidor de odores nas estações e elevatórias, acréscimo de oxigênio no sistema de aeração, inertização e aceleração na retirada do lodo nas estações de tratamento.
15) Vide resposta anterior.
16) Em todas as reclamações, os técnicos do SAAE entram em contato com o munícipe para detalhar as ocorrências.
17) Atualmente, o SAAE está ampliando e reformando várias ETE’s, sendo elas: ETE Pitico com obras em fase final de reforma e ampliação; ETE S2 em fase final de elaboração do projeto executivo para ampliação e reforma; ETE Itanguá em desenvolvimento da revisão do projeto de ampliação de 2015 e parceria com a iniciativa privada para aquisição de novos equipamentos para melhor eficiência no tratamento do efluente.
Destaca-se, por fim, que o SAAE Sorocaba vem trabalhando intensamente com empenho, buscando rapidamente cessar e minimizar qualquer efeito danoso que possa causar à população e ao meio ambiente.

mais
sobre
despejo de esgoto Iara Bernardi mau cheiro poluição rio Sorocaba Sae
LEIA
+