Imagens constrangedoras de Thara Wells, candidata ao Conselho Tutelar, são exploradas por ultraconservadores de Sorocaba. Foto: Divulgação
A assistente social Thara Wells, candidata ao Conselho Tutelar nas eleições que vão acontecer no dia 1º de outubro, tem sido alvo de notícias enganosas e preconceito nas redes sociais e whatsapp por ser transsexual. Vídeos e postagens de origem desconhecida tentam depreciar a imagem de Thara, acusando-a de se prostituir e de não ter “reputação ilibada” para assumir o cargo de conselheira. As acusações falsas têm sido referendadas, nas redes sociais, por membros do Governo Manga.
Além de já ser suplente do Conselho Tutelar, Thara é mestranda em Estudos da Condição Humana pela UFSCar, recebeu o título de cidadã emérita de Sorocaba e foi a primeira pessoa trans do município a integrar o Conselho de Direitos da Mulher (2018-2022).
Thara nunca negou que, em um período difícil da sua vida, foi obrigada a ser garota de programa. “Tenho orgulho da minha história, da pessoa que me tornei; tenho orgulho de todos os esforços que fiz para mudar de vida”, disse a candidata ao Portal Porque.
Ela saiu da prostituição há seis anos, foi estagiária da Funserv (Fundação dos Servidores Públicos Municipais) e completava a renda como palestrante. Em 2021, quando entrou no mestrado, começou a receber uma bolsa de estudos, que foi cancelada após ela ser eleita como conselheira tutelar em junho deste ano.
Transfobia no Paço
Um anônimo, com dinheiro, chegou a contratar um perito para vasculhar a internet, atrás de imagens do passado de Thara, que ela não conseguiu apagar. Essas imagens, que Wells considera constrangedoras, foram usadas em postagens nas redes sociais e constam numa denúncia que o anônimo apresentou ao Ministério Público (MP).
Ela foi chamada para se explicar ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) e manteve sua candidatura. A reportagem apurou que as imagens depreciativas contra a candidata trans foram exploradas até por pessoas que possuem cargos de confiança na Secretaria da Cidadania (Secid) e por adversárias de Thara –ligadas ao prefeito – que também concorrem ao cargo no Conselho Titular.
Em nota, Thara opina sobre a perseguição que vem sofrendo: “Este caminho de muitas lutas desagrada a parcela ultraconservadora, que busca marginalizar corpos trans. Casos assim me fazem ter ainda mais certeza que minha candidatura é necessária nesta cidade”.
“Reitero que este episódio, sem motivação legal, será devidamente respondido, juridicamente, assim como também qualquer outro ataque ou fake news que tentem manchar minha história, em especial neste processo eleitoral. Transfóbicos, não passarão”, finaliza Thara.
Ao Porque, Thara explica que não faz programas há mais de seis anos e que foi empurrada para a prostituição, após ser expulsa de casa aos 17 anos, depois do falecimento da mãe. “Hoje, com uma carreira acadêmica consolidada, tenho como missão, com meu trabalho no Conselho. Mas, antes disso, como palestrante em escolas, serviços públicos municipais, cursos e em universidades regionais e nacionais, luto para que nenhuma outra pessoa trans tenha que passar pelas violências que vivi. Quero trazer esse importante diálogo de desrromantizar a prostituição como meio de sobrevivência, pois garanto a vocês que não é”, afirma Thara.
As eleições
Qualquer eleitor sorocabano pode votar para o Conselho Tutelar. Basta comparece à uma unidade de ensino, no próximo domingo, dia 1º de outubro, das 8h às 17h, e apresentar o título de eleitor (ou e-título) e um documento original com foto.
Confira relação de escolas onde haverá votação. A escola não é necessariamente a unidade onde o eleitor costuma votar.
