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De área de enchente a local de lazer: a história do Parque das Águas de Sorocaba

Muita gente não sabe, mas o parque localizado na beira do rio foi planejado, justamente, para funcionar como bacia de contenção e drenagem em época de chuva

Sandra Nascimento*

Parque, que na realidade é um piscinão, ocupa área de várzea com topografia muito próxima ao do rio, e está naturalmente sujeito às inundações. Fotos: PMS/reprodução G1

Lá no Jardim Abaeté, próximo à avenida Dom Aguirre e paralelo às margens do rio Sorocaba, está localizado o Parque das Águas do Abaeté Maria Barbosa Silva, ocupando uma área de mais de 167 mil m2. Sua infraestrutura comporta desde ciclovias a anfiteatro, entre pistas de caminhada, deque, lagos e fontes. Embora muita gente não saiba, o parque surgiu da necessidade de controlar a drenagem das águas de chuva e as inundações do rio Sorocaba em épocas de chuvas mais intensas.

A história do parque começou quando muitas casas do Jardim Abaeté começaram a ser invadidas pelas águas do rio Sorocaba nos períodos das fortes chuvas. Isso acontecia porque o Abaeté era um desses casos de loteamento planejado em aterro e se encontrava em nível inferior ao do leito do rio.

No lugar, muita gente simples acabou adquirindo um terreno e, pela falta de responsabilidade das autoridades públicas, tiveram da Prefeitura a liberação para a construção de suas casas em áreas alagadiças. Quando chovia, as águas provocavam a elevação do rio e o drama humano era iminente.

O bairro, porém, não era o único que sofria com as enchentes. Havia outros próximos, como o Jardim Maria do Carmo, o Jardim das Acácias e o Parque Vitória Régia. Então, em 2004, o governo de Vittor Lippi, procurando atender as reivindicações dos moradores, projetou a construção de uma bacia de contenção e drenagem das águas pluviais, ou seja, um piscinão.

O Piscinão do Abaeté

A inauguração do piscinão ocorreu em 31/7/2006. Nesse dia, o prefeito divulgou à comunidade presente que naquele local seria também construído o “Parque das Águas do Abaeté”. A nova obra teria uma grande área verde e iria se integrar ao próprio rio Sorocaba que, em épocas de cheia, poderia até esparramar suas águas pela bacia de contenção do parque, unindo-se assim ao lago do lugar.

Conforme matéria do jornal Cruzeiro do Sul em 1/8/2006, o sistema da obra para barrar as águas consistia em um piscinão com capacidade para 48 milhões de litros de água, contendo três conjuntos de motobombas com vazão de 500 litros por segundo, para serem acionados se necessário; um dique de proteção (paredão) de 700 m de extensão, 4 m de largura e 6 m de altura; um gerador próprio para o caso de falta de energia; e uma comporta para impedir que a água do rio pudesse inundar os bairros.

O Parque das Águas

Inaugurado em 29/06/2008, o parque se tornou uma grande referência para eventos na cidade. Shows musicais, festas populares, atividades esportivas e até desfiles carnavalescos começaram a acontecer naquela área que, pela infraestrutura, desde que surgiu passou a receber a constante presença da população em busca de entretenimento e lazer.

A vocação do local para o lazer foi percebida pela população, desde antes da inauguração do piscinão. Tanto que, em 7 de junho de 2006, o vereador Ditão Oleriano, em notícia publicada pela imprensa, indicava as imediações do piscinão para abrigar a Festa Junina de Sorocaba. Naquele ano, depois de ser retirada de Santa Rosália, a festa junina estava sendo realizada na sede campestre do Clube União Recreativo, com um público abaixo das expectativas e precisava, segundo o vereador, de um lugar que garantisse receita aos assistidos das entidades participantes.

Em outubro de 2006, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Sorocaba assinou contrato para a elaboração de projeto arquitetônico e executivo do Parque das Águas. E, mesmo antes disso, em 25 de agosto de 2006, foi publicada a lei municipal nº 7.855, que deu o nome de “Parque das Águas do Abaeté Maria Barbosa Silva” à área localizada na bacia de contenção do Jardim Abaeté e Jardim das Acácias.

Concluído, o local passou a dispor de playground, pista de skate, bancos, sanitários, campos de futebol, quadra poliesportiva e um núcleo de segurança funcionando 24 horas. Atualmente, uma imensa área verde costuma abrigar muitas espécies da avifauna do rio Sorocaba, como biguás, joões-de-barro, bem-te-vis e as famosas garças que elegeram a ilha natural do parque para construir um grande ninho.

Criador e Criação

Para completar o cenário, em 2012, o parque recebeu de presente uma monumental escultura do artista plástico Chico Niedzielski. Esse trabalho, patrocinado pela Jaraguá Equipamentos Industriais, pesa 79 toneladas em aço e custou, na época, 1 milhão de reais. Intitulada “Criador e Criação”, a obra, que instalada parece se interligar ao céu e ao infinito, oferece uma grandiosa harmonia de formas geométricas aos olhos curiosos de seus admiradores.

Chico Niedzielski é um escultor brasileiro nascido em Catanduva-SP. Suas obras são contemporâneas, impressionam pelo tamanho e são inspiradas principalmente na geometria sagrada.

Quem foi Maria Barbosa Silva

Maria Barbosa Silva (1930-1972) foi mãe de Moacir Luís Silva Oliveira, o vereador que, em 2006, sugeriu que seu nome fosse dado ao parque do Abaeté. Maria nasceu na cidade de Bezerros, Pernambuco e, com 9 anos, foi trazida a Sorocaba depois de ser dada em criação para uma família da cidade. Casou-se com Moacir Oliveira e teve 11 filhos. Seu esposo, por muito tempo, trabalhou na Cianê (Companhia Nacional de Estamparia) e também foi verdureiro. A família sempre morou na Vila Progresso, onde era muito conhecida.

Maria Barbosa Silva faleceu aos 42 anos, durante o parto do seu 11o filho. Segundo informações de Moacir Luís, sua mãe foi uma pessoa solidária, e não media esforços para auxiliar os necessitados. Era católica, atuava na comunidade do bairro e na Paróquia de São José Operário. Moacir Luís hoje é pastor evangélico na igreja Amor e Fé.

Sandra Nascimento é jornalista e autora do blog Rio Sorocaba Conta Histórias.

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